Resolvi ler a História das Idéias e Movimentos Anarquistas – Vol. 2 nem tanto pela vontade, mas como pagamento de um débito antigo. Embora já tivesse lido duas vezes o Volume 1 há tempos atrás, sentia que tinha que ler o Volume 2 de uma vez por todas. Afinal, a divisão em dois volumes (essa clássica edição da L&PM Pocket da “capa vermelha e da capa preta” sempre disponível em todos os sebos) separa um texto único (sua edição original). Logo, era como deixar um livro pela metade. E eu odeio abandonar livros, mesmo que sejam ruins.
Certamente é uma excelente obra sobre o movimento anarquista. O seu mérito, e ao mesmo tempo limitação, consiste em seguir numa visão científica bem tradicional, historicista, documentalista. Me agrada muito saber sobre números e dados baseados em documentos oficiais, frutos de um bom trabalho de pesquisa. Mas esse rigor também impõe limites e logo seu próprio “fracasso”.
No Volume 1, intitulado A Ideia, Woodcock fala sobre as definições e conceitos chaves do anarquismo, suas subdivisões, seus principais autores, sua gênese histórica e seu desenvolvimento até os dias do texto (a primeira edição brasileira foi em 1984). Mas, na medida do possível, o autor superficializa algumas questões históricas que são apresentadas no Volume 2: O Movimento. Essa separação faz com que o Volume 1 seja mais interessante, tornando o Volume 2 mais cansativo e repetitivo. O livro faz, assim, um itinerário do movimento anarquista, no seu entendimento mais burocrático do termo “movimento”. Ou seja, foca nos movimentos mais institucionalizados, nas organizações e discussões das Internacionais e Congressos, dando ênfase ao continente europeu. E tratando do tema de forma tão ampla, temos um visão mais geral do que detalhada dos “fatos e eventos”, servindo como bom ponto de partida para estudos mais aprofundados. Esse na verdade é o grande mérito desta obra de Woodcock.
Enfim, é um excelente livro com muitas informações que nos ajudam a entender e refletir um pouco mais sobre esse tema tão complexo e fascinante, porém, vejo o texto mais como um olhar marxista sobre o anarquismo (o que também é válido) do que um olhar anarquista sobre o anarquismo (o que por sua vez também é válido). Isso me deixa curioso sobre os escritos teóricos de Woodcock (que eu nunca li), onde ele expressaria suas ideias libertarias, pra sacar qual é a pegada dele de fato. Enfim, novamente, é uma ótima leitura, nâo se assuste com suas 280 páginas..