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Será que a solidão realmente tem a ver com vazio e silêncio? Erick sempre valorizou a solidão porque no silêncio conseguia ouvir melhor os barulhos da sua cabeça.

Ainda que gostasse das conversas longas, das festas ou da mesa do bar, através de momentos solitários ligava-se a sensações e sentimento únicos. Certas músicas, um livro ou até mesmo compor algo pro violão. Não tratava-se então da ausência de tudo. Talvez, da incapacidade de comunicar-se com o mundo das pessoas e dos barulhos, abria-se uma linha de comunicação com coisas, forças e elementos desconhecidos. Uma frequência baixa, difícil de escutar.

Lembrou-se dos antigos aparelhos de som com um botão de volume ou frequência, que podia-se girar de forma lenta e macia. Sentado na poltrona da sala escura, num cenário difícil de distinguir o horário (se noite, se dia, se sol, se chuva), tentou com a mão levantada, encontrar alguma transmissão. Queria conectar-se com alguém ou consigo próprio?

Lembrou-se então de quando era jovem, como se tivesse realmente captado uma memória nas ondas de rádio. Havia tomado LSD com os amigos, mas parece que todos estavam distraídos na cozinha ou em outro lugar distante. Erick porém tinha seus olhos pregados no computador, embalado pelo rock progressivo e encucado com um homem do vídeo que andava em um deserto. Ele possuía uma espécie de capa, um tecido negro e longo, e parecia que ele nunca chegaria a lugar nenhum. Um homem sozinho no deserto. Quanto anos tinha? Vinte e dois? Foi quando descobriu que todo homem está sozinho.

“Had to have high, high hopes for a living
Shooting for the stars when I couldn’t make a killing
Didn’t have a dime, but I always had a vision
Always had high, high hopes”

Isso não significava algo ruim. Talvez fosse até um estímulo. Um alerta, uma dica. Confiar é uma necessidade e um erro. Por mais que a sintonia perfeita pudesse ser alcançada em algum momento. Sempre haveria o mal tempo, as inconstâncias, a interferência, a Hora do Brasil, o fim da programação, uma queda de energia.

Era preciso no entanto, lembrar que aquela sub-frequência, aquele espectro invisível e inaudível, estaria sempre ali. Quando tudo falhasse, pela primeira ou milésima vez. A solidão era a única certeza.

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