Cada dia torno-me mais operário.
A idade, a crise, o golpe, as elites mais uma vez nos massacrando, a vida cada vez mais mais curta, uma descrença que não para de crescer…
A cada dia tenho produzido mais literatura proletária,
produzindo cada dia menos.
Na corrida infindável da busca por dinheiro,
cada dia sem escrever uma linha sequer,
é uma obra assinada.
Ao fim da tarde, sem energia e sem forças, esvoaçam as ideias, mas o moral amolece.
Encontro na esquina o amigo artista plástico proletário,
ele também me mostra seus quadros de nada,
pintados sem tinta nem tela.
Eu, sem lápis nem papel,
procuro enxergar a poesia do instante.