Escolha uma Página

capa_blues_crumbSó pela capa dessa edição já compensa comprar. Não conheço muito do Crumb, quase nada. Assisti O Anti-herói Americano (American Splendor, uma espécie de auto-biografia) do Crumb antes de ter lido qualquer trabalho seu, e talvez por isso mesmo não tenha gostado muito do filme.

Blues é minha primeira incursão, presente de Jemima Murad, comprada no sebo Arte Na Ativa dos camaradas Sandra e Pedrão. Com o tema blues já era evidente que eu gostaria do livro, que é, na verdade, uma coletâne a de desenhos meio esparsos, unidos pela temática junto com ilustrações de Crumb para capas e cartazes de músicos e bandas.

Gostei muito da arte de Crumb, do seu traço pesado, às vezes psicodélico. O seu característico mau-humor rabugento também faz parte do show, mas não pode ser levado ao extremo. Seu grande ódio e crítica à música pop é muito radical para mim, mas não deixa de ser cômica.

No fim, acho que faltou um pouco mais de quadrinhos à esta edição. Embora seja muito massa você poder conferir as capas e cartazes desenhados por Crumb aos músicos, incluindo sua própria banda R. Crumb And His Cheap Suit Serenaders. A própria capa acima foi orginalmente desenhada para o álbum Harmonica Blues (coletânea de blues com gaita dos anos 1920 – 1930).

Mas a edição é bem-feitinha, o formato grande, a inserção do texto introdutório e o posfácio de Crumb, a qualidade das imagens… tudo jóia como costumam ser as edições da editora Conrad.

No entanto, o melhor de tudo mesmo, e acredito que essa era a grande aspiração de Crumb, é você conhecer um pouco dos bons e velhos bluzeiros do interior americano do começo do século XX. Pequenas iscas que podem aguçar sua curiosidade para, como eu, sair baixando e procurando esses músicos e canções pela internet.

Ressalto ainda que, como também gosto muito de música caipira brasileira, ou o sertanejo de raiz, fico vidrado nessas relações que podemos estabelecer entre a vida e o pensamento do “povo de antigamente”, que era artista e vivia “no campo”. Gostamos tanto de pensar nos grandes artistas que se consagram frente ao grande público ou à indústria cultural, por possuírem uma técnica fantástica ou a capacidade de unir milhares de pessoas (eterno mito do herói), que não valorizamos o artista simples, do povo, popular, que desenvolve sua técnica sozinho ou a recebe através de uma longa tradição familiar.

Por isso posto também a contra-capa desta edição, que tem uma arte excelente, e também é um cardápio desse velho blues. Esses grandes nomes do blues do Mississipi e do interior, foram, em alguns casos, pobres e pouco conhecidos. Ou ainda, como Crumb nos faz refletir, muitos podem ter sidos esquecidos pra sempre, apagados da história. Você precisa entender isso antes de ouvir algumas dessas gravações ruidosas, com qualidade ruim, um sotaque arrastado, às vezes quase incompreensível.

capa_verso_blues_crumb

Enfim, é uma ótima leitura, está recomendadíssimo. Se você curte um pouco de Blues, mesmo que seja um pouquinho, e encontrar este livro a venda, provavelmente em algum sebo, compre. Eu paguei 15 reais e acho que saiu barato demais!

Share This