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para o amigo Nilton Tscherne

Mandei um zap no celular e ele logo respondeu. Meu velho Sid, eu tô meio mal. Você sabe, a vida, aquela velha espiral, tem me forçado pra borda. Preciso retirar o mofo de debaixo do colchão. Como de costume, a resposta veio rápida como uma bala.

Então estávamos de repente dentro de um fusca cambaleante cortando ruas de terras enegrecidas pela noite entrecortando campos de cana. Isso tudo é comida de carro, ele disse. E era tudo noite e o caminho era onduloso e tinha barulho no carro mas silêncio lá fora. Estávamos totalmente embriagados de nada, chapados de coisa nenhuma, só ideias e reflexões que cabem somente aos homens que se construiram juntos. Histórias de 30 anos. Construídos com os mesmos tijolos.

Nós vamos ir reto até o moinho abandonado, depois passar ao lado da pequena cratera, subir o morro do coelho e vamos chegar num lugar aqui do lado, entre Analândia e Americana, onde existe um bar, e lá vamos tomar uma caipirinha de banana. Caipirinha de banana? É, você topa? Claro, cara, com você eu topo 93% de tudo.

Mas é sério que tem um morro que parece um coelho? Claro que tem, talvez não haja, mas já está existindo agora que estamos falando e se continuarmos acreditando ele vai existindo cada vez mais e provavelmente vamos passar ao lado dele em 3 minutos.

E eu não sabia o que era verdade ou não, nunca se sabia com o Sid. Então a gente ia brincando de adolescente, como quando dávamos vida aos nossos hominhos de plástico de guerra ou quando jogávamos RPG e brincávamos de adultos.

E eu ali pensando em escrever um conto sobre aquilo tudo, aquela loucura de estar viajando no meio de um canavial, de deixar todo o peso do mundo pra trás, como quando você dá um foda-se e vai dormir sem tomar banho.

Revisitar minha fundação… e a vida começava a retomar sua tranquilidade.

 

* A fotografia Muro de Tijolos foi retirada do Flickr de Daniel Guimarães que a licenciou com Creative Commons.

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