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Nem sei quanto tempo faz que não escrevo. Parece que nada mais faz sentido. Tudo bem isso é meio exagerado para alguém que é praticamente niilista.

Fico pensando se eu fosse um personagem de ficção. As aventuras de Angelo no país das maravilhas. Infelizmente a realidade parece muito mais ficção. Um país que não é nação. Um presidente que não foi eleito. Quase dois anos pagando dívidas, diminuindo a qualidade de vida. E agora baixaram dez reais do salário mínimo.

Quando vejo o telejornal parece que estou assistindo uma distopia barata de um futuro em branco e preto. Chato. Sem legendas. Só vejo mímica e fico com a impressão de que em algum momento o William Boner arremessará uma torta através da tela e acertará minha cara. Parece que todo dia levo uma tortada na cara. E torta de comédia pastelão não é de limão, nem de amendoim, nem mesmo de creme. Parece que essa merda é feita de creme de barbear e eu tenho que lamber tudo ainda. Porque agora, tudo que é de graça, tem que ser aproveitado.

O Brasil era o país do futuro. Virou o país do presente. E agora é o país do passado.

Vejo o extremismo crescendo e as pessoas lutando pelo direito de oprimir o outro (e a si mesmas, o que é mais louco).

As pessoas ainda dizem “Angelo, publique seus textos na internet”, mas hoje pensar é perigoso, e expor suas ideias começa ficar mais perigoso ainda. Outro dia no bar fui acusado (por alguém que certamente não é cliente do Bar Utopia) de querer instaurar a ditadura gaysista. Tive que manter a calma e dizer que o problema da pessoa era desejo reprimido de dar o cu, até porque eu sou a favor da ditadura dos maconheiros abortistas.

A noite não consigo dormir. Fico pensando, o que eu posso fazer contra tudo isso? O que podem as meras pessoas que agora estão dormindo para acordar cedo para o trabalho no dia seguinte, com dez reais a menos no bolso?

Será que estou preso num sonho ruim? Um pesadelo presidido pelo Michel Temer? Estou tão preso nessa história quanto neste texto, que comecei e agora não sei terminar. Vim aqui apenas expressar minhas angústias porque cortaram a internet e não tenho dinheiro pra sair.

Fico pensando se essa realidade não poderia acabar também como um conto curto. Um ponto final e o início de um novo parágrafo. Mas essa realidade viscosa, da corrupção misturada com esse conservadorismo desumano, prossegue, inesperadamente, por páginas e páginas.

Fico pensando porque, assim como nos enredos fajutos, essa realidade não possa ser abruptamente interrompida com um “deus ex machina”, assim como nesta história, onde escuto explosões e gritos e, de repente, um grande monstro vindo do espaço explode toda a terra com seus poderes radioativos.

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