Escolha uma Página

Aproveitando as últimas horas do domingo para postar mais um trecho da saga de Erick. Para quem não leu as primeiras partes, coloquei os links abaixo. Ainda tem mais alguns tantos capítulos aguardando tempo para uma revisão mínima. Mas Erick também não está assim com tanta pressa. Ele está de boa, tentando ainda encontrar o sentido da vida.
 

Acordou numa madrugada silenciosa, escura e clara, por causa da luz da lua cheia. Não se mexeu na cama, mas não conseguiu voltar a pegar no sono. Antigamente detestava quando tinha uma noite de insônia. Preferia levantar-se e ir fazer algo no computador ou mesmo assistir qualquer coisa na tv. A sensação de “não fazer nada” lhe irritava. Sentia como se a vida estivesse sendo desperdiçada, como um torneira que pinga.

 

Agora, depois do acidente, como nada mais parecia fazer sentido, sentiu pela primeira vez uma insônia tranquila. Afinal, por que um utilitarismo tão grande em relação ao tempo. Ficar trinta minutos deitado na cama, apenas pensando e ouvindo o nada, seria realmente um desperdício? Por que era preciso estar o tempo todo trabalhando ou estudando ou adiantando algo? Sempre algo para adiantar ou desatrasar. Se não era uma engrenagem do capitalismo, sentia-se engrenagem das suas próprias aspirações e ideais.

 

Quanto mais corria para uma direção, mais sentia que e velocidade necessária seria negativa. Como sabia se estava realmente voltando para trás? No mundo 3D toda direção é para frente.

 

Era a primeira vez que dormia em sua casa desde que saíra do hospital. Tudo estava no mesmo lugar. Não tinha bichos para alimentar. E não soube se a sensação de ter algo que dependesse dele para se alimentar, viver e apodrecer; era boa ou ruim. Se nada bom no mundo apodrecer sem sua presença, talvez signifique que você não importa muito.

 

Como viver num mundo sem certezas. Gostaria de viver sete anos no Tibet vestido de monge laranja meditando no pico de uma montanha. Depois disso desceria e escreveria um novo livro sagrado dedicado ao deus do nada. Como viver num mundo sem ter nenhuma certeza, um método prático. Assinado, o profeta Erick.

 

O silêncio às vezes é macio.

 

Uma insônia poderia ser uma meditação noturna ou uma oração ao deus do nada. Senhor, livra-me da verdade, das minhas certezas, de quem eu sou, do que eu sinto, dos meus amigos, do meu corpo, da minha lógica.

 

Pensou em apagar suas redes sociais. Sempre teve inúmeros motivos para fazer isto, Mas no momento, o que Erick realmente queria era liberdade de inexpressão. Não ter que emitir sua posição descolada ou inteligente sobre nada, nem ser alvo de qualquer comentário de alguém sem importância. Pensou até mesmo em fazer isso, agora, aproveitar a insônia. Mas achou melhor não. Preferiu continuar respirando profundamente, deitado, aproveitando o silêncio, como se fosse um presente raro e valioso.

Você já leu os textos anteriores dessa série?

Simbiose

Simbiose

Em certa linguagem de computação o cifrão é usado para indicar o nome de um valor variável, assim $variavel. Isso significa que esse palavra possui duas metades, uma é o nome que funciona como um índice, uma referência (cifrão + palavra), a outra metade é o valor...

Erick e o jardim

Erick e o jardim

Nosso amigo Erick adora aprender com o jardim. Não que seja ruim aprender com os outros, obter novas informações e ensinamentos, mas parece que também é possível aprender com o silêncio das plantas.Olhando para o jardim iluminado pelo sol do meio-dia, Erick pensava...

Erick e o tudo e o nada

Erick e o tudo e o nada

Um texto na madrugada... sobre um pouco de tudo. Poderia uma pessoa se sentir um nada? Não, acho que seria tão impossível quanto se sentir um tudo. Um dia vou escrever um livro sobre como tudo começou do nada, pensou Erick, enquanto escolhia no programa qual música...

Share This