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Ultimamente tenho tido pouquíssimo tempo e energia para escrever no blog, mas na minha cabeça continuo escrevendo muitos textos. A maioria desaparece, mas algumas reflexões retornam constantemente. É o caso do Manual do Homem, que ainda terá mais 6 ou 7 capítulos. Ou talvez mais, já que o ato de desconstrução que a pós-modernidade nos exige parece, mais um meio do que um fim.

Primeira verdade: homem é destino

 

Assim que vem à vida, o homem sofre dois cortes. O primeiro é o de gênero, o segundo é o do cordão umbilical.

Antes de ser gabriel, joão ou mateus, o frágil bebê será homem. Essa definição também será seu destino. O ser, antes de ser, já está determinado.

A vida no seu início é toda de caos, mas a ordem virá junto com as primeiras sensações. O calor do pano, o toque da mãe, vozes, luzes e leite materno. A vida no seu início é toda experiência.

O macacãozinho azul, o foguete no mobile, o carrinho de brinquedo. De início a ordem se mostra suave, mas só até o surgimento do primeiro não.

“Meu menino”, ser homem é cumprir um destino. Ser homem, para o homem, é tudo que importa. Imanente, não é opção. Natural. Naturalmente o garoto deverá ser aquilo que ele demorará anos para aprender. Sendo homem, aquele ser que nasce passa a existir, localizado no tempo e espaço do berço da realidade.

 

Segunda verdade: ser homem é não ser mulher

 

Como ser algo que não se sabe o que é? A resposta é simples e ele constantemente será lembrado: ser homem é não ser mulher. O trajeto do garoto será agora simplificado já que entender a masculinidade será entender ao mesmo tempo a feminilidade. Simples, mas não fácil para o pequeno garoto que ainda não sabe amarrar os sapatos.

O treinamento masculino será administrado por todos: familiares, vizinhos, professores e personagens de desenhos animados. Enquanto aprende a segurar o xixi, avisar quando está com vontade de fazer cocô, falar mamãe e papai e equilibrar-se sobre as pernas; o pequeno homenzinho deverá aprender a classificar tudo aquilo que faz parte do universo masculino e do universo feminino. Assim, consolida-se o processo cerebral do macho binário que constitui-se em separar todas as coisas em dois grupos: bem e mal.

Ser masculino ou feminino não é bom nem mal, desde que esteja no lugar correto. Reconhecer e ser o masculino não é uma opção, mas espera-se que o homem fique satisfeito ao ser privilegiado na divisão. Para ter o poder da força, deve abster-se da fragilidade, da sensibilidade, das emoções (qualidades que deverão ser apreciadas apenas quando cultivadas pela mulher).

Na escola as crianças repetirão os ensinamentos familiares. Os homens deverão se afastar das mulheres para não terem sua masculinidade contaminados. É preciso de tempo para aprender a usufruir do feminino sem ser vencido por ele. Os pequenos machos aprenderão a valorizar aquele que melhor exerce o poder da violência. O sistema (professores, direção, inspetores e pais) contribuirá, gerenciando para que a violência não seja nem demasiada, nem insuficiente.

Não exercer a violência é fraqueza e estar isolado é estar a mercê. Nenhum homem deverá usar cores femininas, cabelo comprido, ter gestos delicados, muita intimidade com as meninas ou jogar vôlei. Ter a voz aguda, os membros magros ou um olhar que sempre se abaixa, colocará o homem na lista das vítimas.

O tempo todo o homem deverá ser testado pelos seus inimigos (e amigos). Devem menosprezar toda fala, ação ou reação feminina com xingamentos como viado, gay, bicha, mulherzinha, mocinha, fracote… Havendo afronta por parte do ofendido, esse deverá sofrer agressões físicas como socos, chutes, tapas na cara e pancadas diversas, com intuito de machucar ou apenas como humilhação.

O macho médio, não podendo estar no topo, deverá desaparecer na média, para não chamar atenção. Deverá detectar aqueles que são menos machos que ele e também aviltá-los.

É preciso cuidado. Todos os olhos estão à espreita. Os medos devem ser bem guardados. Demonstrar medo perante um inseto ou uma ação pode garantir um apelido para a eternidade. Poemas e pretensões artísticas devem ser ocultados.

Para garantir a melhor parte, o homem deverá abrir mão de metade da vida. Sem jamais titubear.

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